sexta-feira, 25 de abril de 2008

DECISÕES

dialogando com Kafka:

Devemos ser capazes de superar facilmente um estado lastimável, ainda que com energia forçada. Levanto-me da poltrona, dou a volta à mesa, solto a cabeça e o pescoço, deixo os olhos ganhar luz, distendo os músculos à sua volta. Vou ao encontro de todos os sentimentos, recebo A. de forma esfuziante quando ele chegar, aceito amavelmente B. na minha sala, absorvo sofregamente, quando vem C., tudo o que se diz, apesar do sofrimento e do esforço.
Mas, mesmo que as coisa se passem assim, cada erro que não possa ser evitado entravará tudo, o que é leve e o que é pesado, e eu vou ter de andar para trás em círculo.
Por isso, o melhor conselho é aceitar tudo, comportarmo-nos como uma massa pesada e, ainda que nos sintamos impelidos por um vendaval, não ceder à tentação de dar um único passo desnecessário, olhar para os outros com olhos de bicho, não sentir o menor arrependimento, esmagar com as próprias mãos aquilo que ainda resta da vida como um fantasma, ou seja, aumentar ainda o último silêncio, próprio do túmulo, e não aceitar mais nada a não ser ele.
Um gesto característico de um estado de espírito como este é o de passar com o dedo mínimo pelas sombrancelhas.
F.K.

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