quarta-feira, 30 de abril de 2008

Voltando pra casa

Sentada do meu lado, uma senhora vestida de menina, com os lábios explodindo de silicone me diz salut depois do meu espirro...

Penso se devo dizê-la, não minha senhora-menina, não é salut que se fala depoir do espirro. é bom que a senhora-menina saiba disso, para não cometer a gafe de dizer "oi" depois que alguém espirra. Mas quer saber, meu espírito normativo caga regras está em baixa, assim como minha generosidade (talvez máscara de caga regra) não tem tido muita vontade própria.

Fico quieta. Mas minha curiosidade, esta sim, tem vontade própria. Pergunto:

- A senhora vem de onde?

- Los Angeles, Baby.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

DECISÕES

dialogando com Kafka:

Devemos ser capazes de superar facilmente um estado lastimável, ainda que com energia forçada. Levanto-me da poltrona, dou a volta à mesa, solto a cabeça e o pescoço, deixo os olhos ganhar luz, distendo os músculos à sua volta. Vou ao encontro de todos os sentimentos, recebo A. de forma esfuziante quando ele chegar, aceito amavelmente B. na minha sala, absorvo sofregamente, quando vem C., tudo o que se diz, apesar do sofrimento e do esforço.
Mas, mesmo que as coisa se passem assim, cada erro que não possa ser evitado entravará tudo, o que é leve e o que é pesado, e eu vou ter de andar para trás em círculo.
Por isso, o melhor conselho é aceitar tudo, comportarmo-nos como uma massa pesada e, ainda que nos sintamos impelidos por um vendaval, não ceder à tentação de dar um único passo desnecessário, olhar para os outros com olhos de bicho, não sentir o menor arrependimento, esmagar com as próprias mãos aquilo que ainda resta da vida como um fantasma, ou seja, aumentar ainda o último silêncio, próprio do túmulo, e não aceitar mais nada a não ser ele.
Um gesto característico de um estado de espírito como este é o de passar com o dedo mínimo pelas sombrancelhas.
F.K.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

agente da passiva

Eu sei que devemos procurar produzir materialidades, ou concretizar sonhos e construir objetividades, mas...
e se eu quiser trocar meu sujeito por uma agente da passiva?

segunda-feira, 7 de abril de 2008

A mais bonita...

ontem fui presenteada por uma canção que há tempos não escutava. O sorriso foi instantâneo. Porque quando escuto uma canção linda, a primeira resposta do meu corpo é abrir um sorriso. Depois começo a dançar. é incontrolável. A primeira vez que isso aconteceu aqui no metrô foi inesquecível. pelo menos pra mim. Simplesmente porque eu parei o vagão em que estava. Sim, todos me olharam como se fosse uma alienígena! Aqui ninguém se expressa muito enquanto no metrô. Entramos todos como robôs, todos de cabeça apontadas pro chão, o mínimo de contato possível. Só se ouve "pardon, pardon". Eu também só digo pardon...só que esse dia transgredi as regras do anonimato; e cantei e dancei e sorri. Depois passei vergonha. pensei até em mudar de vagão na estação seguinte. Mas não mudei, permaneci muda. porém satisfeita.

domingo, 6 de abril de 2008

Neva em Paris

Neva em Paris. E eu queria te dizer como é bonito. E eu queria te mostrar as coisas daqui. E queria te falar como é triste não te ter aqui. Não só porque neva, mas também porque neva.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

sobre sentidos

Nós dois seríamos o quê?
parcerias de vida?
completude de almas?
necessidades de carne?
puro afeto de jovens?
simples coisa que pulsa.

porque ele é genial.

Não, meu bem, não adianta bancar o distante: lá vem o amor nos dilacerar de novo...

Esperando a Primavera

"Nada irá nesse mundo apagar o desenho que temos aqui...nem o maior dos seus erros o farão sumir"

Daquela porra toda que existia, seus fantasmas ainda me contornam. O cenário mudou, os conceitos trocaram todos, o entendimento sobre os acontecimentos também, mas essas sombras-monstrinhas insistem em me acompanhar. E eu corro de uma lado pro outro, me viro de ponta cabeça, dou três voltas em volta de mim e, lá estão elas, espertinhas. Sabem melhor que eu, que, nesses casos, é inútil bouger. A esperteza está toda nisso. Mais uma idiota que tenta correr que nem barata tonta nessas metrópoles latões de lixo na expectativa de enganar seus fantasmas. Seus visgos estão impregnados. Não minha filha, pode tentar se esfregar no banho e, ainda assim, lá estão eles. Rindo como hienas podres da nossa ingenuidade humanóide. Sem saber controlar nós mesmas da presença desagradável das lembranças indesejadas. E da memória de um futuro.
De qualquer maneira não vou parar de correr, te tentar pelo menos trocar os assuntos dos meus fantasmas, inventando novas paranóias para ver se ganha alguma graça ter esses acompanhantes não queridos. Ou chegar ao ponto em que fiquem tão intimos, mas tão próximos que não vou chama-los de outra coisa que não eu. Aí quem sabe posso começar a saborear essa mais nova parte de mim, e preencher meus cantos de flores, ao invés de poeira. Tomando meus cantos de cheiros e cores, como a chegada da primavera, que tanto espero depois de um inv(f)erno de 3 meses...Aí vou poder pensar colorido! E colorir os caminhos por onde passo, recuperar meu sorriso, caminhando com a leveza que tanto tem me faltado. E que tanto me faz falta! Tenho me estranhado ultimamente. Estou mais séria, menos brincalhona. Juro que até tento fazer uma piada, mas não sai nada. Não tenho muito pensado na comicidade da vida. Será que estou envelhecendo? "estou a vir!". Vai sair o quê da casca da velha eu?