Eu já nem me lembro há quanto tempo não escrevo para pensar. Eu resisti (e muito), eu desisti de tentar expressar por falta de coragem, e, principalmente, decidi assumir que, afinal, não era tão boa assim com as palavras escritas. Foi aí que eu inventei o meu mito de que com a palavra falada e o trabalho de esforço físico eu era realmente muito melhor. Tem anos isso. É de uma velocidade impressionante, quase amedrontadora. Pouco a pouco, porém, veio crescendo em mim uma falta, um vendaval de vazios, que até então não estava sabendo explicar. Achava que era solidão. Achava que era incapacidade de amar, traumas, experiências difíceis. Afinal, tinha escolhido, e de tão sofrida a escolha, achei que tinha que amputar certos desejos. Mas esse buraco tomou uma forma tão amorfa em mim que não conseguia mais me reconhecer. E tenho passado meses tentando ir ao encontro de mim, desse tal reconhecimento. Me propus até pequenos estudos íntimos, leituras de ética, sabe, coisas a se aplicar. Mas não durou, não deu consistência ao buraco, e dei pra reforçar que de fato, minha decisão tinha então sido honesta.
Bastou uma semana difícil mais um encontro que, eu tenho certeza, poderia ter sido algo de extraordinário (o extraordinário! o extraordinário que procuro em toda esquina!) para me trazer a insônia, movimento muito pouco conhecido por mim. E dessa insônia, a necessidade física de falar alto em palavras, berros borrados numa página digital jogada no mundo sem um só leitor. E, das poucas linhas que consigo esboçar, quero tentar preencher não só páginas, mas o coração de entendimentos, de tréguas, de carinho feito por quem recebe. Não há verdades, nem medos. Existe a dureza, e essa, essa se esconde tão bem numa força que se transveste de maturidade. Entendi só agora (quanta demora!) que para curar enrijecimentos crônicos causados pelas dores, o exercício da escrita é o melhor alongamento da alma.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
linda, linda. fiquei feliz e ofegante (arf, arf) com essa ginastica de madrugada. quero ver serotonina nessa alma!
Postar um comentário